segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

opinião... quatro ideias nucleares sobre educação... de manuel ferreira patrício...!



"Antero de Quental, que foi um homem de pensamento, escreveu a Wilhelm Storck, intelectual alemão, entre outras coisas estas palavras memoráveis: “Porque a verdade, meu caro senhor, é que não é possível viver sem ideias”.


Direi  eu, relativamente à educação, que não é possível dirigir  a educação do país sem ideias. Lamentavelmente, neste domínio vejo o país um deserto de ideias. Neste momento, em que O Distrito de Portalegre vai gozar as suas merecidas férias, parece-me conveniente expor aos leitores, até para conclusão das reflexões que pude fazer nas últimas cinco semanas, um certo conjunto de ideias nucleares acerca da educação em geral e da educação portuguesa em particular. Apresentá-las-ei sob forma muito sintética, mas também com a clareza que devem ter as teses. São quatro as ideias que apresentarei hoje. Tenciono completar o quadro a partir de Setembro.


A primeira é a ideia de educação. O cerne do processo a que damos o nome de educação é o ser humano, na sua universalidade de espécie  e na sua singularidade de indivíduo. É a pessoa humana o lídimo sujeito da educação. Assim, educar é personalizar, a educação é processo de personalização. É importante socializar, é importante preparar para o exercício de uma profissão, mas tudo isso é pouco para atingir a essência da educação, que é o processo de tornar pessoa, de tornar-se pessoa.


A segunda é a ideia de educando. Esta não coincide com a de aluno, ou de instruendo, nem mesmo com a de aprendiz ou aprendente, ou a de estudante ou escolar. Há quem ironize sobre o termo, considerando-o uma palavra do “eduquês”, pretensamente a linguagem dos educadores profissionais e dos denominados cientistas da educação. Enganam-se os que assim se pronunciam sobre um assunto da maior seriedade. Educando é o nome genérico de todo aquele que está sujeito a um processo de formação de si, ou educação. Não há processo mais importante do que este, não há condição mais séria do que esta.


A terceira ideia sobre a qual desejo reflectir sumariamente é a de educador. Trata-se do pólo oposto ao de educando. O educador é aquele que intencionalmente serve o educando no processo da educação deste. Ao falar do educador, no seu precioso tratado De Magistro (O Mestre), São Tomás de Aquino apresenta-o como sendo apenas o auxiliar do educando no processo de formação deste, não como o sujeito desse processo. Quando, no pensamento pedagógico moderno, se confere o primado à aprendizagem, em relação ao ensino, está a seguir-se a posição de São Tomás de Aquino. Com efeito, o educando é da ordem da finalidade e o educador da ordem dos meios. O educando não existe para o educador o educar ou ensinar, o educador é que existe para o educando poder educar-se e aprender.


Avancemos para a quarta ideia – a última de que me ocuparei hoje –: a ideia de família. Quando falamos no educador, não queremos referir-nos apenas ao educador profissional, aquele cuja obrigação profissional é educar e ensinar. Queremos referir-nos também, e com a devida ênfase, à família, aos pais. Assistimos hoje a um processo generalizado de afastamento progressivo da família em relação à educação dos filhos, em grande parte em consequência da organização social e da divisão social do trabalho, que coloca a lógica da economia acima da lógica do humano. A ideia de “escola a tempo inteiro” é uma expressão dessa vontade de subordinação da educação dos filhos aos imperativos profissionais dos pais. Ora os pais são muito mais do que meros progenitores; são os primeiros e principais responsáveis pela formação humana dos filhos, pela sua educação. É este um ponto dos mais sensíveis relativamente à doutrina expendida pelo Papa Bento XVI na sua encíclica Caritate in Veritate (Caridade na Verdade), recentemente publicada. À luz deste importante documento, a educação só é reformável em profundidade em articulação com a reforma estrutural da economia e da sociedade. Entre os dedos e os anéis, quem hesita em apostar nos dedos?!..."

Manuel Ferreira Patrício

nota... escrito [por aqui guardado em formato de texto] apanhado por aí [desconheço... neste momento... a origem]...!

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