quarta-feira, 27 de agosto de 2014

ah... a arquitectura... le corbusier...!


no expresso diário...


"O NOME Charles Edouard Jeanneret-Gris, que resolveu chamar-se Le Corbusier, quando tinha 51 anos de idade FOTO HUDSON/TOPICAL PRESS AGENCY/GETTY IMAGES

TEXTO ANABELA NATÁRIO

OS DOIS MÚSICOS

Le Corbusier já tinha revolucionado a arquitetura com os seus projetos, mas continuava com as suas pinturas, quando acabou por ceder às solicitações e fazer um desenho para ser reproduzido numa tapeçaria de Portalegre. A insistência fora de Guy Fino, responsável, com o seu amigo e sócio Manuel Celestino Peixeiro, em 1946, por recuperar a tradição dos tapetes de ponto de nó desta antiga cidade do Alentejo, navegando na onda do movimento da tapeçaria moderna em França. A mesma insistência já resultara com o pintor francês Jean Lurçat, que, impressionado com a qualidade da manufatura, “assegurou encomendas que deram à marca projeção internacional”, como conta Alexandre Pomar. Foi nos anos 1960 que Corbusier pintou “Les Deux Musiciens” no cartão de 1,17 por 1,27 metros que seria ampliado e adaptado a esta técnica única de tecelagem, considerada património cultural nacional. A encomenda fê-la o arquiteto suíço, um ano antes de morrer afogado no mar Mediterrâneo, a 27 de agosto de 1965, aos 78 anos. A sua ideia era iniciar com “Os dois Músicos” uma série nesta arte mural. “O encontro com Le Corbusier (1887-1965), grande praticante da tapeçaria como ‘mural do nómada’ adaptado às condições da vida moderna, deu-se só em 1964 e a morte veio gorar a colaboração anunciada por uma histórica peça única”, refere Pomar no catálogo da exposição "Nós na Arte - Tapeçarias de Portalegre e Arte Contemporânea", realizada em 2009, no Museu da Presidência da República.
<span><span class="arranquelegenda">OBRA</span> A Capela Notre-Dame-du-Haut, cuja constru&ccedil;&atilde;o foi iniciada em 1950, sobre a colina de Bourl&eacute;mont em Ronchamp, em Haute-Sa&ocirc;ne, Fran&ccedil;a <span class="creditofoto">FOTO SEBASTIEN BOZON/GETTY IMAGES</span></span>
 
OBRA A Capela Notre-Dame-du-Haut, cuja construção foi iniciada em 1950, sobre a colina de Bourlémont em Ronchamp, em Haute-Saône, França FOTO SEBASTIEN BOZON/GETTY IMAGES
O MODULOR

Só 123 anos depois do nascimento de Charles Edouard Jeanneret-Gris, a 6 de outubro de 1887, em La Chaux-de-Fonds, no cantão suíço de Neuchâtel, é que um dos seus mais importantes textos aparece traduzido em português. O “Modulor/Modulor 2” foi dado à estampa em 2010, traduzido por Marta Sequeira, na altura com 33 anos e o doutoramento em Projectos Arquitetónicos. São dois volumes. No primeiro “O Modulor”, originalmente publicado em 1950, o autor explica o seu sistema de medidas, concebido entre 1943 e 1950. De uma forma superficial digamos que, para conceber os seus trabalhos, tanto de arquitetura como de pintura, Le Corbusier fixou a altura padrão do homem em 1,83 metros, combinou-a com os números do matemático medieval Fibonacci e as teorias da Grécia antiga, e daí apurou uma série de proporções, em harmonia com o corpo humano e entre si, estabelecendo uma ponte entre dois sistemas métricos: o sistema anglo-saxónico e o métrico decimal. “Trata-se de uma fórmula de coerência a partir da qual é possível gerar duas séries de medidas”, explicava na altura a editora Orfeu Negro. O segundo volume, “Modulor 2”, publicado pela primeira vez em 1955, analisa o impacto e as diferentes reações provocadas nos leitores pelo livro anterior. “Tudo o que fica de acordo com o Modulor sai certo… sai sempre proporcionado, sempre agradável”, confessava o arquiteto Simões de Carvalho, que estagiou no ateliê do mestre, em Paris. Outros seus escritos – “Os três estabelecimentos humanos” (1976), “Por uma arquitetura” (1998), “Planejamento urbano” (1976) – foram publicados no Brasil, país que visitou e com o qual teve uma relação especial. A sua marca da “cidade radiosa”, reta, branca, preparara para os “tempos modernos”, está bem patente em Brasília, obra de Oscar Niemeyer que trabalhou com Corbusier, o homem que dizia fazer “máquinas de habitar”.


<span><span class="arranquelegenda">RETIRO</span> A Casa do Lago em Corseaux, na Su&iacute;&ccedil;a, que Le Corbusier construiu para os seus pais quando estes j&aacute; estavam numa idade avan&ccedil;ada <span class="creditofoto">FOTO FABRICE COFFRINI/AFP/GETTY IMAGES</span></span>
 
RETIRO A Casa do Lago em Corseaux, na Suíça, que Le Corbusier construiu para os seus pais quando estes já estavam numa idade avançada FOTO FABRICE COFFRINI/AFP/GETTY IMAGES
ERICEIRA

Nesta antiga vila, cuja arquitetura nada tem que ver com a defendida por Le Corbusier, a não ser a brancura das casas, terá passado alguns dias de férias na casa do advogado José Esteves Barros. Corbusier era amigo do irmão deste que era médico e vivia na Suíça, daí que, pelos anos 1960, tenha vindo a Portugal passar alguns dias onde “o mar é mais azul”. “São relações que se traçam fora da cultura arquitetónica e sem repercussões nela”, afirmam os arquitetos e professores Ana Vaz Milheiro e Jorge Nunes em “Le Corbusier e os Portugueses”. O suíço que viveu a maior parte da sua vida em França sempre viajou imenso. É célebre um dos seus passeios pelo mundo, quando decidiu, definitivamente, enveredar pelo caminho da arquitetura. Em “Voyage d’ Orient”, juntou as impressões que, ao longo de seis meses, lhe causaram países como a Checoslóvaquia, Áustria, Hungria, Jugoslávia, Roménia, Grécia, Turquia e Itália, por onde andou, depois de uma estada na Alemanha, seis meses entre 1910 e 1911. “É comum a ideia de que existe uma ‘rutura em relação à história’ na génese dos lugares públicos das cidades de Le Corbusier e de que os seus espaços preconizam uma separação entre o seu tempo e a experiência precedente”, diz Marta Sequeira, cuja tese de doutoramento versou “A Cobertura da Unité d’Habitation de Marselha e a Pergunta de Le Corbusier pelo Lugar Público”. Para Marta, também arquiteta, Corbusier “não faz mais que recriar a espacialidade grandiosa e pitoresca dos lugares públicos da Antiguidade, os lugares de representação e glorificação do coletivo que estiveram na origem da nossa cultura e que constituem o âmago da nossa tradição: a praça pública grega e o fórum romano”.

<span><span class="arranquelegenda">PR&Eacute;DIO</span> A &ldquo;Unidade de Habita&ccedil;&atilde;o de Berlim&rdquo; fotografada em 2007, 49 anos depois de tra&ccedil;ada pelo arquiteto su&iacute;&ccedil;o <span class="creditofoto">FOTO ANDREAS RENTZ/GETTY IMAGES</span></span>
 
PRÉDIO A “Unidade de Habitação de Berlim” fotografada em 2007, 49 anos depois de traçada pelo arquiteto suíço FOTO ANDREAS RENTZ/GETTY IMAGES"
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