sexta-feira, 22 de maio de 2015

a actualidade do dia-a-dia, numa visão pessoal do jornalista...!

Bom dia, já leu o Expresso Curto Bom dia, este é o seu Expresso Curto
Mafalda Anjos
Hoje por Mafalda Anjos
Editora da E
 
22 de Maio de 2015
 

Discutem-se ideias e não pessoas, não é extraordinário? 


Ideias e mais ideias. Boas, más ou assim assim, mas muito melhores que o vazio. Este esboço de programa eleitoral do PS apresentado a quatro meses das eleições foi uma lufada de ar fresco no noticiário nacional. Como é refrescante debater ideias e não pessoas, para variar. Os jornais dedicam-lhe pois hoje várias páginas, colunas de opinião e espaços de primeira, esmiuçando algumas propostas. O Económico sublinha em manchete que o PS abre a ADSE aos trabalhadores do privado e o Diário de Notícias avança que Costa quer os cidadãos a fazer propostas para o Orçamento do Estado. Henrique Monteiro criticou um aspecto importante do documento: a imposição de um mínimo de 33% de mulheres nas administrações das empresas cotadas, à qual chama “uma erupção dos anos 60 do século passado”. Sim, o velho e quente tema das quotas está de volta, dividindo opiniões. “As quotas, em vez de promoverem a possibilidade das mulheres disputarem lugares profissionais, criam-lhes a enorme desconfiança de os alcançarem porque a lei assim o exige. E isso é profundamente injusto para as mulheres que se destacam pela sua competência, sublinha.” Ora nem mais. Há muito a fazer em matéria de igualdade de género, mas não estou nada certa que este seja o caminho.

Já António José Teixeira faz cinco observações e um reparo ao programa. Termina com uma súmula: “O PS ganhou iniciativa política e leva vantagem. A atual maioria está demasiado satisfeita consigo própria, convencida que bastará lembrar ao eleitorado que Portugal já esteve pior”. A reacção da maioria ao documento tem sido esquiva, algures entre os conselhos amigos de Portas e as tiradas auto-elogiosas de Passos. Ricardo Costa diz que é um erro de palmatória insistir no argumentário do “regresso ao passado”. “Ninguém ganha eleições com um discurso defensivo. A reacção pavloviana é enorme e garante aplausos, mas apenas das hostes. Não abre quaisquer horizontes nem permite crescer eleitoralmente”, escreveu ontem.

Para os socialistas – ou será melhor dizer para os partidos em geral? – há no entanto um problema de credibilidade. Uma sondagem Expresso/SIC avançada ontem ao fim do dia revela que as propostas eleitorais dos socialistas de redução da sobretaxa, do IRS, do IVA e da TSU são olhadas com desconfiança pelos portugueses. 54% dos inquiridos não acreditam nas promessas. Já diz o povo que quando a esmola é muita, o pobre desconfia.


OUTRAS NOTÍCIAS
Soube-se também que Pais do Amaral ficou fora da corrida à privatização da TAP, e que apenas duas propostas avançam para a fase de negociação direta com o governo. Resta agora saber: Neeleman ou Efromovich, qual dos estrangeiros vai ganhar a companhia aérea de bandeira portuguesa?

Por falar em meios de transporte, sabe que vêm aí novas regras para a carta de condução? O Público faz manchete com o tema, sublinhando que os condutores com infrações graves no cadastro partem do zero na nova carta, que vai funcionar por acumulação e desconto de pontos. As alterações entram em vigor a 1 de Junho do próximo ano.

Quatro notas de agenda importantes. Hoje é finalmente inaugurado o novo Museu dos Coches, e amanhã abre as portas ao povo. Hoje é também o dia em que José Sócrates completa seis meses de prisão preventiva – o I avança com um trabalho de súmula extenso sobre o assunto enquanto o Correio da Manhã sublinha que vai ficar detido por mais três meses. Continua a reunião do BCE em Sintra, com governadores dos maiores bancos centrais reunidos em Portugal a debater os problemas económicos do mundo. Mario Draghi ainda não foi surpreendido por uma menina a saltar-lhe para cima da mesa, mas os lesados do Banco Espírito Santo já anunciaram que se vão manifestar à porta. E até domingo, continua ainda a acelerar o Rally de Portugal.

Lá fora

Tic tac, tic tac. O tempo corre contra os gregos no impasse que pode vir a tornar-se uma tragédia grega. Não houve sinais de uma solução de acordo no primeiro dia desta cimeira de líderes que se realiza na Letónia, durante a qual decorreram vários encontros bilaterais para discutir a batata quente que preocupa a Europa (a outra é a situação na Ucrânia). A data-limite para um acordo é 5 de Junho.

E lembra-se da notícia do menino Adou, o rapaz de 8 anos encontrado dentro de uma mala a tentar entrar em Espanha e que emocionou o mundo? O El Pais divulgou ontem toda a história do rapaz e como é que ele acabou escondido num trolley, e diz na primeira página de hoje que o menino conseguiu uma autorização de residência por 12 meses, e vai finalmente em breve juntar-se à sua mãe. Uma história com final feliz entre tantas centenas de milhar de outras desoladoras.

Continua o noticiário trágico em torno do Daesh, com relatos de milhares de pessoas que fogem de Ramadi – estima-se que ascendam a 40 mil refugiados. O grupo terrorista controla 50% da Síria com a conquista de Palmira, conhecida como a Veneza das Areias, cuja importância histórica o Expresso explica aqui e o DN destaca na primeira página de hoje. Vale a pena espreitar esta infografia animada do New York Times que explica como o auto-denominado Estado Islâmico se continua a expandir e conta já com células operacionais em mais de 12 países.

Este fim de semana há eleições em Espanha, e a Europa está suspensa para ver que posição conquistarão o Podemos e o Ciudadanos, os partidos fora do sistema. O tema será hoje discutido ao final do dia no Expresso Diário e acompanhado online no nosso site durante o fim de semana.

Para algo completamente diferente, espreite a lista conhecida ontem com o top 10 das 18 mil novas espécies de animais conhecidas em 2014. Um dinossauro-galinha do inferno e um pau andante estão entre os eleitos pelos cientistas do Colégio de Ciência Ambiental e Florestal.

Uma capa da edição de Junho da “Elle Australia” está a marcar pontos porque nela figura a modelo Nicole Trunfio a amamentar o seu filho. Se é um dos atos mais banais da humanidade, não é costume vê-lo na capa de uma revista de moda. Uma imagem durante um momento cândido de pausa durante a sessão inspirou o fotógrafo.

Há uma Grande Reportagem interativa no site da Sic. Chama-se "Brasil Global" e versa sobre os 50 anos da Globo, com um centro de produção conhecido como a fábrica de sonhos do Brasil. 

E, para terminar, o habitual momento geek: muito provavelmente, anda a usar mal alguns emojis. É que o significado de vários dos bonecos muito usados nas redes sociais e mensagens não são assim tão óbvios, e a Unicode, o grupo com a tarefa muito cool de escolher os emojis e definir os seus standards, vai mesmo sugerir alterações para os clarificar. A Wired conta tudo


FRASES
“Só faço um aviso com amizade (…). Eu não aconselharia experimentalismos”, diz o amigo Paulo Portas, criticando o programa de governo do PS em matéria de segurança social.

“O interesse público de continuar o processo de privatização é hoje perfeitamente identificado por 10 milhões de portugueses”, assegura o secretário de Estado dos Transportes Sérgio Monteiro. Em que amostra se terá baseado, não é público. 

“A televisão reserva para si um espaço privilegiado em que se encarrega de promover a rivalidade e o ódio, e sobretudo, a agressão física sistemática: o futebol, bem entendido”, escreve Vasco Pulido Valente numa crónica intitulada “Lixo”.

“Este processo é um plebiscito para a entrega do poder absoluto a um homem – algo em que eu me recuso a alinhar”, disse Luís Figo, comentando que não vai a jogo na corrida à presidência da Fifa. 

“A cirurgia plástica comprou-me uma década”, afirmou Jane Fonda do alto dos seus recauchutados 77 anos. 


O QUE ANDO A LER
Depois de ler esta recensão no New York Times fiquei cheia de vontade de devorar a recém-publicada biografia de Joe Mitchell, o lendário jornalista da New Yorker, autor do "Segredo de Joe Gould" que protagonizou um dos mais famosos e dramáticos casos públicos de bloqueio de escritor. Ele, reconhecido e talentoso repórter, tinha na revista liberdade absoluta: escrevia sobre o que queria, procurando muitas vezes as suas histórias em assuntos prosaicos, nas vidas dos indigentes e nos recantos escondidos de Greenwich Village. Escreveu em duas partes, uma primeira em 1942 e a segunda em 1964, um aclamado perfil sobre Gould, um mendigo cultíssimo que deambulava naquela zona da cidade, e que preparava um magnífico tratado de história que afinal nunca chegou a ver a luz do dia. Estes dois textos deram origem a um aclamado livro, que catapultou Mitchell como um dos mais importantes escritores do século XX. Acontece que, depois de 1964, nunca mais Mitchell conseguiu escrever uma linha. Durante 30 anos foi para a redacção, onde se fechava no seu gabinete e tentava escrever sabe-se lá o quê, sem nunca mais conseguir publicar um só texto. No livro “Man in Profile: Joseph Mitchell of the New Yorker”, Thomas Kundel ajuda a levantar o véu sobre este misterioso autor. (Amazon, capa dura $20,30, Kindle $14,75)

Regressando aos dias de hoje mas dentro da mesma indústria, a Vox explica porque a Hillary Clinton não precisa dos media, e como isso está a deixar os media doidos. Conta o site que a candidata presidencial se recusou a responder a questões dos jornalistas durante 28 dias, que foram contabilizados numa contagem enfurecida “como se se tratasse da crise de 79-80 com os reféns no Irão”. Os media são, de facto, irrelevantes para esta mulher que todos conhecem, que é uma candidata credível e que está a frente nas sondagens, passando alegremente ao lado das leis básicas da política que recomendam que, pelo menos em campanha, se ande com os jornalistas nas palminhas. Hillary tem com os media uma velha relação mais de ódio do que de amor, desde os tempos em que os intrometidos dos jornalistas denunciaram o affair extra-conjugal do seu marido. O tema da especial relação do casal Clinton com os media já tinha sido em Março alvo de uma boa capa da Time (com o título “The Clinton Way”) que pode ser recordada aqui.

O que eu já li (privilégios de editora), mas que o caro leitor pode ler amanhã na E, é a entrevista a Michel Houellebecq feita por Clara Ferreira Alves. O mais controverso dos escritores franceses, apontado por alguns também como um dos melhores, conta como anda com vigilância policial permanente desde o ataque do Charlie Hebdo, no mesmo dia em que era lançado o seu livro islamofóbico “Submissão” (um romance sobre um candidato muçulmano que chega à presidência de França e impõe uma sharia), fala com desdém da Europa e lhe vaticina o fim, e afirma que se está nas tintas para os gregos, para a política e até para os leitores. “O livro põe o dedo num medo europeu, o medo de que a Europa se torne num continente muçulmano”, afirma Houellebecq, que tem tanto de misterioso como de odioso. “Não duvido que sou detestado, diz ele. Eu, depois de ler esta entrevista, também não.

Amanhã há, como sempre, Expresso em versão semanal num quiosque ou tablet perto de si, com muitas outras boas leituras para o acompanharem durante o fim-de-semana. Logo há Expresso Diário às 18h, e estamos, claro, sempre aqui à distância de um click ou toque de ecrã. Segunda o Curto está de volta, bem tirado pelo Pedro Candeias. Bom fim-de-semana!

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