sexta-feira, 20 de novembro de 2015

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Bom dia, já leu o Expresso Curto Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Martim Silva
Por Martim Silva
Editor-Executivo
 
20 de Novembro de 2015
 
Cavacountdown
 


Bom dia,
A agitação política nacional e as consequências dos terríveis atentados terroristas de há precisamente uma semana dominam noticiosamente o dia de hoje.
E esta newsletter.

 
PARTE I. A BOLA COM CAVACO
Começemos pela política. Cavaco Silva, depois de passar dois dias na Madeira, depois de receber os parceiros sociais em Belém, depois de ouvir os banqueiros e vários economistas (mas sem nunca, estranhamente digo eu, consultar aquele que é precisamente o seu órgão de consulta, o Conselho de Estado) chega hoje ao dia em que volta a ouvir os partidos políticos representados no Parlamento (já o fez logo após as eleições e antes de indigitar Passos como primeiro-ministro).
Não é por isso de excluir que ainda hoje Cavaco Silva diga, anuncie, comunique, divulgue o que decidiu: basicamente, se nomeia ou não António Costa primeiro-ministro. E este vai a Belém com a garantia adicional de que já tem um executivo pronto a entrar em funções. As notícias divulgadas apontam maioritariamente no sentido de que Cavaco acabará por dar posse ao governo de esquerda - embora nos últimos dias tenham ganho força outras teses, desde a manutenção de Passos em gestão; até à invenção de um governo de iniciativa presidencial, que, mesmo chumbado no Parlamento, ficaria em gestão até à convocação de eleições lá para o verão. Impedindo Costa de chegar ao poder, que tanto deseja, e aliviando Passos de ficar em gestão até lá, como não deseja nada.

Muito curioso é este artigo do Expresso que mostra como o PS fez um acordo à esquerda mas agora anda a tentar sossegar banqueiros, agências de rating... e até alguns dos maiores empresários e empresas nacionais. Empresas e empresários estão a receber “mensagens” vindas dos socialistas, tentando sossegá-los e garantir que não há qualquer risco de radicalização. Ou seja, o acordo é à esquerda mas a governação será mais ao centro. E agora, pergunto eu: que acham PCP e BE disto?
Quem também andou a distribuir mensagens de acalmia, e a dar garantias em Bruxelas de que Portugal vai cumprir o défice, seja qual for o desfecho político, foi… Marcelo Rebelo de Sousa. A fazer de Presidente antes de Presidente ser eleito.
A verdade é que depois do acordo, as declarações e os episódios mostrando divisão não têm parado. Ainda agora Jerónimo de Sousa disse “não nos podemos comprometer com o que não conhecemos”, a propósito da aprovação do OE para 2016.

Este é portanto um momento importante na vida política nacional.

Além disso, vão-se agitando as águas na luta presidencial. Enquanto se vai perguntando aos candidatos ou proto-candidatos o que fariam se estivessem no cadeirão presidencial, Cavaco já marcou as eleições que vão decidir o seu sucessor para 24 de janeiro. Ou seja, quem quer ser candidato tem até à véspera de Natal para oficializar a intenção.
Assim sendo, faltam hoje precisamente 65 dias para e eleição do novo Presidente ocorrer (não se admire se começarem a surgir por estes dias uns "cavacountdowns" para nos ir avisando de quantos dias faltam até Cavaco voltar para a Travessa do Possolo ou para a Praia da Coelha). Tic-tac-tic-tac...

Entretanto, hoje mesmo, o Expresso e a SIC divulgam, pelas seis da tarde, a primeira sondagem da Eurosondagem sobre Presidenciais.
Não posso divulgar desde já os dados, mas posso garantir-lhe que vai valer a pena espreitar as notícias pelo final da tarde. E se julgava que a eleição de Marcelo eram favas contadas (e confesso que eu estou claramente nesse lote) então o melhor é mesmo ir olhar para os resultados porque vai ter uma surpresa… E mais não digo.


PARTE II. GUERRA MUNDIAL?
Vamos aos últimos desenvolvimentos, e são muitos, da nova guerra ao terror que está a ser montada (e as capas de várias publicações hoje mostram como está a ser criada uma grande coligação internacional ou como pode mesmo vir aí um conflito de escala mundial):
Vindo dos EUA, este texto tenta explicar a estratégia de Hillary para combater o Estado Islâmico. Ela não é o “falcão” Bush mas também parece mais agressiva que a “pomba” Obama. E porque é importante saber o que pensa Clinton? Porque é bem provável que ela seja a partir do final do próximo ano a presidente dos EUA. E portanto ainda terá muito que falar e decidir nesta matéria.
Apesar do “no boots ont the ground” de Obama, os americanos, de acordo com uma sondagem, parecem mais dispostos a enviar soldados para combater o EI do que a… acolher refugiados que fogem do conflito.
Ficamos ainda a saber que quatro dos terroristas de Paris estavam já nas listas negras dos EUA.

The Economist explica como as dificuldades do EI na Síria e Iraque podem estar relacionadas com o aumento de ataques terroristas noutros locais do mundo.

Os autores dos atentados de Paris poderão ter estado sob o efeito de drogas quando fizeram aqueles atos bárbaros.

O que significa ao certo o estado de emergência que foi prolongado mais três meses em França?

Ao mesmo tempo, as notícias surgem um pouco de todo o lado e afectam vários países. Num vídeo, o Estado Islâmico ameaça atacar a Casa Branca, nos EUA. No Koweit foi desmantelada uma célula de apoio ao Daesh e houve vários detidos. Em Londres, uma estação de metro foi evacuada.

Agora que foi morto o mentor dos atentados de Paris, no ataque policial de Saint-Denis, surge uma nova questão? Como foi possível que ninguém o tivesse detectado, ele que estava referenciado há dois anos como um elemento jihadista perigoso e que tinha um mandado internacional de captura? E quem era ao certo Abdelhamid Abaaoud? Aqui fica a saber-se, por exemplo, que Abaaoud estava a planear estes ataques há 11 meses e que o seu nome aparece envolvido vários outros ataques terroristas que foram evitados em França nos últimos meses. E aqui noticia-se como o mentor dos ataques foi visto na própria sexta-feira à noite em Paris. Para memória futura, aqui fica o mapa dos ataques de Paris, entre os atentados de há uma semana e o ataque de Saint Denis que levou à morte de Abdelhamid.

Já foi há uma semana, mas eu ainda não tinha visto uma explicação tão detalhada, em infografia, sobre o massacre dentro do Bataclan.

Hoje ainda, há reunião dos ministros da Administração Interna da UE, em Bruxelas, para procurar soluções conjuntas para o problema, como o reforço do controlo das fronteiras. Mas já se sabe que os franceses estão muito críticos face à atuação dos seus parceiros e exigem firmeza.

Quanto à Síria, o Público olha para o problema no terreno e afirma que enquanto a solução militar para combater o EI vai avançando, já no campo político as coisas marcam passo.

Em relação a Portugal, duas referências. Uma para a notícia de que Sadjó é o quinto jiadista português abatido. Pertencia ao grupo de Massamá e foi morto num ataque das tropas sírias. A notícia foi avançada pelo DN. A outra para o facto de as autoridades estarem a reforçar a segurança em vários locais e monumentos públicos. Também o Sporting-Benfica deste fim de semana vai ter mais polícia que o normal.


OUTRAS NOTÍCIAS
Cá dentro,
Este sábado faz precisamente um ano que o Portugal político viveu um dos maiores abalos da história da sua democracia. Pela primeira vez, um antigo primeiro-ministro foi detido. Preso por suspeitas de crimes como branqueamento, fraude fiscal e corrupção. Falo obviamente de José Sócrates.
Sobre este assunto vale muito a pena ver os dois vídeos já disponibilizados pelo Expresso que contam toda a história do caso (hoje ao final da tarde será conhecido o terceiro). Além disso, a SIC fez uma longa reportagem sobre o caso, que pode ver aqui.
O DN de hoje faz manchete com o tema, dizendo que o “Fisco exige 19 milhões a Sócrates”. Trata-se de um relatório da Autoridade Tributária em que se chega à conclusão de que o antigo primeiro-ministro deve aquele valor ao fisco.
E no domingo, finalmente, há o aguardado almoço de apoio/desagravo ao antigo líder do PS. Este vai ser seguramente um dos pontos altos noticiosos do próximo fim de semana.

Jorge Silva Carvalho, o antigo homem forte dos espiões nacionais, está a ser julgado e ontem em tribunal não só atacou forte em Júlio Pereira, o número um dos serviços de informações, como revelou que as secretas têm colaboradores em todas as operadoras telefónicas. Algo totalmente ilegal, escusado será dizer.

Para a semana assinalam-se os 40 anos do 25 de Novembro de 1975. Uma data sem dúvida importante e significativa na nossa história recente. Mas tão acirrados estão os ânimos no Parlamento que até saber o que fazer nesse dia é motivo de divisão entre socialistas e PSD e CDS.

Saliente-se a reação firme do MNE português (de surpreender, dado que falo de Machete) contra as lamentáveis declarações do ditador Obiang da Guiné-Equatorial, que defendeu (de forma não surpreendente) a pena de morte. Para os menos recordados, há poucos anos aceitámos este senhor na CPLP.

A prova de avaliação de professores criada por Nuno Crato vai ser eliminada ainda este mês.

Os italianos da ENI vão sair definitivamente do capital da GALP.

O ano passado houve menos greves em Portugal. Mas a sua eficácia aumentou.
 
Lá fora,
Charlie Sheen, o ator de Hollywood, revelou que tem SIDA. A notícia tem corrido mundo. E agora aparecem relatos de ex-parceiras sexuais do ator que dizem que ele não as avisou de que era portador do HIV.

Johan Cruijff está a lutar contra um cancro do pulmão.

Os neo-zelandeses estão fartos da sua bandeira, por a considerarem demasiado parecida com a da Austrália e estão a votar em referendo para escolher uma nova.

A Coreia do Sul aceitou a oferta do seu irmão desavindo a norte e vai iniciar o diálogo com o país liderado por Kim Jong Un.

Quem nunca utilizou o Windows na sua vida que atire a primeira pedra… Todos já lá andámos. Aqui pode saber que o sistema operativo faz 30 anos. E pode viajar pelas várias variantes e evoluções ao longo dos tempos. Imperdível para os saudosistas.

Agora que está a chegar mais um episódio da Guerra das Estrelas, vale a pena ver esta entrevista a George Lucas, em que ele explica porque se fartou de realizar estes filmes e confessa que o personagem que gostaria de ser é… Jar Jar Binks

Há um novo anúncio das bonecas Barbie. A novidade neste caso é que pela primeira vez aparece um menino, e não uma menina, num anúncio do género.

Porque é que os homens não apreciam mulheres com sentido de humor? Não sei se será mesmo assim, mas esta é pelo menos a pergunta de partida deste curioso artigo da Atlantic.

Nem no desporto as ondas de choque do terrorismo deixam de se fazer sentir. Este é fim de semana de Real Madrid-Barcelona. Mas do que se fala é das medidas de segurança à volta do jogo. Em Itália joga-se um Juventus-Milão mas a conversa é a mesma.

Em Londres está a decorrer o ATP World Tour Finals e Federer e Djokovic são os favoritos nas meias-finais, sendo que hoje será conhecido o último semi-finalista.


NÚMEROS
430
mil euros de comissões é quanto terá recebido o filho de Pinto da Costa, Alexandre Pinto da Costa, através de uma empresa sua, na transferências de jogadores do Dragão. Os documentos a denunciar a situação foram divulgados pelo Futebol Leaks.

20
milhões de dólares é o donativo de Mark Zuckerberg para permitir que a internet chegue a todas as escolas norte-americanas. E o Facebook, claro está…


FRASES
“Não consigo perceber porque é que o PSD não apoia formalmente Marcelo Rebelo de Sousa. De que é que está à espera?”, Manuela Ferreira Leite, antiga líder do PSD, na TVI24, criticando a atuação do seu partido em matéria de presidenciais. Curioso é que o jornal i, na sua capa de hoje, refere precisamente que Passos já disse aos líderes das distritais para apoiarem Marcelo

“Do que a coligação precisa é de um programa e de um método de oposição, de um governo-sombra, de uma maquinaria eficaz (dentro da AR e fora dela) e principalmente de uma política de informação pública (quem fala sobre o quê e onde). O espectáculo que a direita está a dar é o caminho mais curto para uma nova derrota”, Vasco Pulido Valente, no Público

“Governo não vai precisar dos votos do PSD”, Ana Catarina Mendes, a nova mulher-forte do aparelho do PS, ao Sol

“Não nos podemos comprometer com o que não conhecemos”, Jerónimo de Sousa, líder do PCP, na Antena 1 sobre a aprovação do próximo OE

“Mostra-me os teus amigos, dir-te-ei quem és”, Robert Sherman, embaixador dos EUA em Portugal, em entrevista à Rádio Renascença em que se mostra preocupado com as alianças políticas do PS à esquerda

“Rangel recebe pela porta do cavalo”, título do Correio da Manhã na primeira página, referindo-se ao juiz Rui Rangel e a escutas do processo dos vistos gold

“Esperamos conseguir derrotar o Daesh mais rapidamente do que derrotámos a Al-Qaeda”, John Kerry, secretário de Estado dos EUA

“Sabemos que existe também um risco do recurso a armas químicas e bacteorológicas”, Manuel Valls, primeiro-ministro francês


O QUE EU ANDO A LER
Esta semana comecei “Magnífica e Miserável- Angola desde a Guerra Civil”, de Ricardo Soares Oliveira. O livro, da Tinta da China, é um relato do regime angolano e da forma implacável como José Eduardo dos Santos foi construindo e sedimentando o seu poder no país ao longo destes 36 anos. E como o consegue manter através de uma "informalização" no funcionamento da máquina estatal, em que se divide para reinar e em que o poder, sobretudo o poder económico, está todo concentrado nas mãos de um homem.
Algumas ideias fortes que já li naquelas páginas:
“A Sonangol é a principal ferramenta política do jugo que José Eduardo dos Santos impõe a Angola”

“O cepticismo relativamente à retórica desenvolvimentistas do MPLA está a aumentar e o sonho colectivo da modernização está a deparar-se com um cinismo crescente por parte da maioria dos angolanos”

A seguir, e aproveitando a maré negra do terrorismo que vivemos, vou pegar em “Jihadismo Global das palavras aos actos”, de Filipe Pathé Duarte.

Lançamento muito aguardado é o primeiro mergulho da “pluma caprichosa”, Clara Ferreira Alves, uma histórica das páginas do Expresso, no romance. A envolvente da obra, de nome "Pai Nosso", é precisamente o médio oriente e o terrorismo e a guerra que já está aqui (é impossível deixar de fazer o paralelismo com o lançamento de “Submissão”, de Houellebecq, que em janeiro decorreu precisamente em cima dos atentados ao Charlie Hebdo).
Já amanhã, na Revista E do Expresso, pode ler a entrevista de Ricardo Costa e Cristina Margato a Clara Ferreira Alves.

Por hoje é tudo. Bem sei que o Curto foi algo longo, mas o peso dos temas justifica-o. Se aqui chegou, espero que concorde. Tenha uma grande sexta-feira.

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